domingo, 29 de setembro de 2013

Intervalo Parte 21 - Morte no micro-ondas


Resumo - Michel explica a Leonardo e Mariana quais os princípios que tornam possível a existência de uma novela. Revela a existência de 3 divindades: os Escritores, a Audiência e os Patrocinadores. E mostra porque a vida dos personagens da novela Vidas Sem Rumo é tão miserável. Diz que tem muito mais a falar, mas vai ter que esperar o próximo intervalo. Agora Leonardo e Mariana já sabem como provocar a entrada dos patrocinadores permitindo o retorno temporário de Michel.

(Entra tema da novela. Michel some. Leonardo e Mariana voltam aos seus lugares).

LOCUTOR
Voltamos a apresentar Vidas Sem Rumo. Um oferecimento de Bierskull, a cerveja de quem sabe viver. Salsichas Saúde. Falou salsicha? Falou Saúde. E refrigeradores FreezePlus. O seu jeito de refrescar.

MARIANA
Homossexual? Você, Leonardo, meu noivo... homossexual?!!

LEONARDO
Um momento, Mariana... Você se lembra exatamente das minhas últimas palavras antes do intervalo?

MARIANA
Claro que me lembro, Leonardo! Suas palavras foram: "E se eu te dissesse que sou homossexual?!"

LEONARDO
Foi o que falei! "E se eu te dissesse?" Mas eu disse que eu sou?

MARIANA
Não disse. Mas insinuou.

LEONARDO
Sou obrigado a discordar de você, paixão. Ao usar o verbo no condicional, eu sujeitei todo o conteúdo da pergunta a uma situação não existente! Eu poderia perguntar "e seu eu me suicidasse amanhã de manhã"? Isso significaria uma intenção de dolo? Ou seria apenas uma conjectura envolvendo uma variação metafísica da realidade? Eu não te disse que sou homossexual, querida. Apenas conjecturei.

(Roberta volta a espancar a porta do lado de fora).

ROBERTA
Leonardo, meu cunhado taradão, abre logo essa porta! Passei a noite estudando o Kama Sutra!

MARIANA
Esquecemos da minha simpática irmã. Deixe que eu abro.

(Leonardo a segura)

LEONARDO
Mariana... você tem que jurar que não vai acreditar no que essa louca vai dizer pra você. Não aconteceu absolutamente nada entre eu e Roberta. Nada!

(Invocada, Mariana abre a porta. Roberta é a caricatura de uma vadia, com um toco de cigarro apagado na boca cheia de baton. Vai entrando).

ROBERTA
Maninha! Querida! Fofa! Meiga! Que bom te ver! Está tomando seus tarja-preta direitinho?

MARIANA
Eu já sei do seu plano, Roberta. Você vai se arrepender pela sua crueldade!

(Roberta passa reto por Mariana e vai se esfregar em Leonardo).

ROBERTA
Ai, que saudade eu fiquei de você, meu cunhadinho! Gente, aquele truque da garrafa... uau! Que loucura! Onde você aprende essas coisas, Leo?

LEONARDO
Mentirosa!

MARIANA
Chega! Chega! O que você tem contra mim, Roberta?! Por que guarda tanto ódio no seu coração?!

(Cinicamente, Roberta se afasta e retoca a maquiagem num espelho).

ROBERTA
Não tenho nada contra você, maninha... Nada! A não ser, talvez um ressentimento por algo que você fez e já deve até ter esquecido que fez. Talvez eu guarde uma mágoa profunda por você ter um dia ter destruído o objeto da minha máxima afeição. O dia em que você, minha querida maninha...
(Berra com ódio)
... queimou meu cavalinho da Barbie!!

(Acorde orquestral dramático)

MARIANA
Aquilo foi um acidente, Roberta! Você sabe disso!

ROBERTA
(Sarcástica
Claro que eu sei... Cavalinhos da Barbie costumam se trancar em fornos de micro-ondas... E ainda conseguem ligar os controles do lado de fora!

MARIANA
Tudo bem, Roberta. Eu posso ter errado. Mas aquilo foi apenas um flash back de vinte segundos no capítulo dezessete! Por que tanto ódio por algo que durou tão pouco? O que você tem contra mim, afinal?!

ROBERTA
Eu não tenho nada contra você, Mariana! Nada contra você ter sido a melhor aluna da escola! A mais bonita, a rainha do baile da Primavera, o mais valioso troféu dos meninos... enquanto eu era sua irmã gordinha, feia e burra! Eu não tenho nada contra você, maninha... Mesmo depois de você roubar meu primeiro namorado, por quem eu estava absolutamente apaixonada e com quem pretendia me casar em breve!

MARIANA
Eu não roubei o Rodolfo Flávio de você! Foi ele quem se apaixonou por mim e me perseguiu sem parar!

ROBERTA
(Irônica)
Pobrezinha... Foi impiedosamente perseguida pelo meu primeiro amor, Rodolfo Flávio, morenão musculoso de olhos verdes... A Marianinha é completamente inocente! Vítima das circunstâncias... Vítima até quando tranca o cavalinho da Barbie de sua própria irmã num forno de micro-ondas e aperta o botão de esquentar pizza!

MARIANA
Rodolfo Flavio estava cheio da sua futilidade, Roberta! Cansado da sua cabeça vazia, dos faniquitos do seu ego!

(Roberta dá uma bofetada em Mariana)

ROBERTA
Como já disse, eu não tenho nada contra você, irmãzinha. Quero apenas ver você num hospício, enquanto eu e Leonardo nos divertimos com o dinheiro que vou herdar da dona Florinda Terremoto...

(Mariana replica a bofetada).

MARIANA
Tenha respeito por nossa mãe, e fecha essa cloaca!

ROBERTA
Você me paga, depósito de celulite!

(As duas partem para a luta-livre. Puxam cabelo, trocam socos, etc. Leonardo tenta apartar as irmãs).

LEONARDO
Calma! Vocês precisam se acalmar! Comportem-se! As duas!

(Briga de gatas. Leonardo tentando separar. A porta se abre. É Bob e seu sorrisão bobo).

BOB
Cheguei em hora errada?

A palavra do autor: essa é a marca registrada de Bob: ele sempre chega em hora errada! A briga entre mulheres rivais em busca do mesmo homem se tornou um hábito que costuma levantar o Ibope das novelas da TV brasileira. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário