Em algum momento fiquei imaginando o que os personagens de uma novela fariam durante um intervalo. Todo munto conhece o mecanismo. Um personagem faz alguma revelação chocante. "Eu sei quem matou seu pai!" Sobe música tensa. Os personagens se olham, calados. Entra o intervalo. Quando acaba o break, volta a cena, os personagens saem do estupor e falam sem parar. Até o próximo intervalo.
Eu decidi que durante o intervalo os personagens ficariam mudos, esperando pacientemente a hora de voltar a falar e agir. Suspenderiam a realidade por minutos. Descansariam da rotina infernal de personagens de um novelão tipo mexicano, onde tudo é conflito, inveja, vingança e frustração. E fariam isso por não conhecer outra opção.
Criei então o que se costuma chamar de "plot point" - um acontecimento marcante que muda o destino dos personagens. Fiz com que num dos intervalos surgisse a aparição do seu Michel, o falecido marido de Florinda e pai de Roberta e Mariana. Ele revelaria a todos as verdades desconhecidas sobre o universo das telenovelas. A partir daí haveria uma corrida para a libertação daquele suplício diário num recanto confortável na memória coletiva.
Eu já tinha os personagens. E um rumo a seguir. Comecei a escrever Intervalo no dia em que completei 51 anos. E me dei 30 dias para completar a peça.
A seguir: O Mal de Knoplish
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